A inflação refere-se ao aumento contínuo e generalizado dos preços na economia. Quando a inflação sobe, o poder de compra da moeda desce, pois os consumidores conseguem comprar menos bens e serviços com o mesmo montante monetário. Em Portugal, tal como na maioria dos países, a inflação tem vindo a acelerar nos últimos meses, atingindo os níveis mais altos das últimas décadas. Vários fatores têm contribuído para esta escalada dos preços, desde os efeitos da pandemia de Covid-19 às consequências económicas da guerra na Ucrânia. O investimento imobiliário também tem sido impactado pelo atual contexto inflacionista, como abordaremos noutro artigo.
Perante este cenário, importa compreender em profundidade o atual fenómeno inflacionista, analisando dados estatísticos e projeções de instituições como o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Banco de Portugal. Só assim poderemos avaliar verdadeiramente o impacto da inflação na economia e no dia-a-dia dos portugueses.
Inflação em Portugal – O que Diz o INE
O Instituto Nacional de Estatística (INE) é a entidade responsável por calcular e publicar os indicadores da inflação em Portugal. De acordo com os mais recentes dados do INE, a inflação tem atingido valores historicamente elevados. Em fevereiro de 2022, a taxa de inflação homóloga situou-se nos 5,3%, o valor mais alto desde dezembro de 1994. Significa isto que os preços em Portugal subiram 5,3% em fevereiro de 2022, em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Já a variação média dos últimos 12 meses até fevereiro de 2022 foi de 3,7%, também a mais alta desde o final de 1992. Ou seja, em média, os preços têm subido quase 4% ao ano. De acordo com o INE, esta aceleração da inflação deve-se sobretudo aos preços da energia, que dispararam 23,8% nos últimos 12 meses. Bens alimentares e serviços também registaram subidas de preços significativas. Perante este quadro inflacionista, o INE tem vindo a rever em alta as suas projeções para a inflação em 2022. Em janeiro, estimou uma inflação de 3,3% para este ano, valor que passou para 4% em fevereiro. Contudo, estas previsões poderão ainda ser superadas.
Índice Harmonizado de Preços no Consumidor
O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) é o indicador utilizado para medir a inflação de forma padronizada na zona euro, permitindo comparações entre países. Em Portugal, o IHPC é calculado pelo INE e segue a mesma metodologia em todos os Estados-membros. Em fevereiro de 2022, o IHPC português fixou-se nos 5,5% em termos homólogos, o valor mais alto desde o início desta série estatística, em 1997. A média dos últimos 12 meses situou-se em 4%, também a mais elevada de sempre.
Os maiores aumentos verificaram-se em categorias como habitação, água, eletricidade e combustíveis (18%), transportes (10,4%) e alimentação e bebidas não alcoólicas (4,1%). O IHPC harmonizado reflete assim a intensa pressão inflacionista sentida atualmente em Portugal, alinhada com a tendência verificada noutros países europeus. A evolução deste indicador é muito relevante, pois influencia as decisões de política monetária do Banco Central Europeu.
Causas da Inflação Atual
Existem vários fatores que têm contribuído para o atual surto inflacionista em Portugal e na Europa:
- Custos de energia mais elevados – Os preços do petróleo, gás natural e eletricidade dispararam nos mercados internacionais, refletindo-se em contas de energia mais caras.
- Problemas nas cadeias de abastecimento – A pandemia de Covid-19 causou rupturas logísticas que ainda perturbam o normal funcionamento da oferta global.
- Aumento dos preços das matérias-primas – Bens essenciais como cereais, metais e fertilizantes ficaram mais caros nos mercados mundiais.
- Recuperação económica pós-pandemia – O reaquecimento da procura após os confinamentos pressionou a oferta em muitos setores.
- Guerra na Ucrânia – As tensões geopolíticas agravaram a volatilidade nos preços da energia e das commodities.
- Políticas monetárias expansionistas – Os estímulos monetários dos bancos centrais durante a pandemia alimentaram as pressões inflacionistas.
A conjugação destes fatores tem sido explosiva para a subida de preços em Portugal e no mundo. A inflação é hoje uma preocupação central para famílias, empresas e governos.
Perspetivas Futuras para a Inflação
Perante estes desenvolvimentos, qual é a perspetiva para a evolução da inflação em Portugal e na zona euro? O Banco Central Europeu (BCE) tem vindo também a rever em alta as projeções de inflação. Para conter as pressões inflacionistas, o BCE já sinalizou que irá subir as taxas de juro ao longo deste ano. Muitos analistas consideram que os bancos centrais foram inicialmente lentos a reagir perante a escalada inflacionista. A grande incógnita reside na duração deste choque de preços e na resposta da política monetária para o mitigar. O atual contexto inflacionista poderá manter-se elevado por algum tempo ainda, com inevitáveis consequências económicas e sociais. A contenção da subida de preços é fundamental para proteger o poder de compra dos consumidores e evitar efeitos recessivos prolongedos.
Consequências da Inflação
A escalada da inflação tem diversas consequências negativas para a economia e a sociedade:
- Perda do poder de compra – O aumento dos preços reduz o consumo que é possível fazer com o mesmo rendimento.
- Diminuição da riqueza e poupanças – O valor real da riqueza e poupanças das famílias é corroído pela inflação.
- Aumento das taxas de juro – Os bancos centrais tendem a subir juros para conter a inflação, encarecendo o crédito.
- Mais incerteza económica – A imprevisibilidade da inflação dificulta o planeamento financeiro e de investimentos.
- Distribuição desigual dos impactos – Os mais pobres e vulneráveis são normalmente os mais afetados pelo aumento do custo de vida.
- Pressão sobre salários e lucros – Trabalhadores exigem atualizações salariais e empresas veem margens reduzidas.
- Possível recessão – Inflação elevada pode levar a uma contração da atividade económica e aumento do desemprego.
Controlar a inflação deve ser assim uma prioridade para evitar um cenário económico e social ainda mais adverso.
Conclusão
Em conclusão, Portugal enfrenta atualmente um quadro inflacionista muito preocupante, que penaliza fortemente os rendimentos e o poder de compra da generalidade da população. Perante um fenómeno com origens complexas e disseminadas, não existem soluções fáceis ou rápidas. Contudo, a contenção da escalada inflacionista deve ser encarada como um desígnio nacional prioritário pelas autoridades portuguesas e europeias. Sem uma inflação controlada e estável, as consequências económicas e sociais podem ser muito severas, afetando sobretudo os mais vulneráveis. O futuro da inflação em Portugal permanece incerto e dependente da evolução de múltiplos fatores externos. Mas uma coisa é certa: a estabilidade dos preços é fundamental para proteger o bem-estar dos cidadãos e as perspetivas de crescimento do país a longo prazo.